INTRODUÇÃO
II - A DIFERENÇA ENTRE A PROVAÇÃO E A TENTAÇÃO
2.1 O ASPECTO POSITIVO - A Provação. Havia uma grande necessidade de Tiago nos tempos da Igreja primitiva trazer um ensinamento sobre os sofrimentos por causa das sucessivas ondas de perseguição (At 8.13; 5.17,18,40; 7.59). “Meus amados irmãos, considerai motivo de júbilo o fato de passardes por diversas provações” (Tg 1.2 - BíbliaKing James). O fruto da provação é a perseverança do grego “hypomone” (MOODY, sd, p. 5). O próprio Jesus disse: “…no mundo tereis aflições…” (Jo 16.33); e, o apóstolo Paulo sabia muito bem o que era padecer, pois enfrentou diversas aflições e tribulações (II Co 11.23-29). Mas, ele tinha a convicção que, em meio às aflições, podia contar com o consolo divino. Por isso, ele diz: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (II Co 4.8,9). Ainda disse: “…para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação…” (II Co 1.4b). Nossas angústias têm um propósito, e nossas feridas tornam-se fontes de consolo: “… com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (II Co 1.4c). A Bíblia mostra que Deus nos consola em toda a nossa tribulação (II Co1.4a). A palavra “consolar” aqui é “paraklesis” e significa “colocar-se ao lado de uma pessoa, encorajando-a e ajudando-a em tempos de aflições”.
2.2 O ASPECTO NEGATIVO - A Tentação. No aspecto negativo, a tentação é totalmente diferente da provação. Enquanto àquela visa o aperfeiçoamento e o crescimento do crente, esta, visa a queda, destruição e o afastamento de Deus. É importante lembrar que este tipo de tentação jamais tem origem em Deus, mas no próprio homem (Tg 1.13; 2Pe 2.9). Quando o desejo do mal se levanta na mente, não pára aí. A cobiça dá à luz o pecado, e o pecado produz a morte. “A morte é assim o produto amadurecido ou terminado do pecado” (MOFFATT, apud MOODY, p. 7). A morte aqui é a morte espiritual em contraste com a vida que Deus dá àqueles que o amam (Tg 1.12). O ponto que o apóstolo Tiago quer explicar é que Deus, em vez de ser a fonte da tentação (do mal), como alguns estavam defendendo, ELE é a fonte de todo o bem na experiência dos homens. “Devemos considerar que todo mal procede de nós e que todo bem vem de Deus” (HENRY, sd, p.1).
III - O CANAL DA PROVAÇÃO
É Deus quem permite o sofrimento na vida de seus filhos e podemos dizer que é o responsável pelas nossas provações (Tg 1.3; 1Pe 1.7; 4.12-14). “Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se revelam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo”. (2 Co 1.5). Paulo ainda diz: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). O apóstolo já havia suportado muitas provações e sofrimento (At 13.45; 14.5; 14.19,20; 16.22,23). Por isso, ele tinha convicção que é Deus que nos livra no sofrimento e nos socorre. “Mas, se somos atribulados, é para o vosso conforto e salvação…” (II Co 1.6). Não estamos isentos do sofrimento, mas temos a convicção do consolo divino. “A nossa esperança a respeito de vós está firme, sabendo que como sois participantes dos sofrimentos, assim o sereis da consolação” (II Co 1.7). Por isso ele ainda diz “Grande é a ousadia da minha fala para convosco, e grande a minha jactância a respeito de vós; estou cheio de consolação; transbordo de gozo em todas as nossas tribulações” (II Co 7.4). A provação deve até ser acolhida com prazer (Rm 5.3). Tais provações têm algumas finalidades. São elas:
- Mostrar ao homem a sua própria fraqueza e conscientizá-lo de sua dependência divina (Dt 8.3,16);
- Aperfeiçoar o seu caráter (Is 48.10);
- Aprofundar o seu conhecimento em relação a Deus (Jó 42.5);
- Conceder-lhe experiências (Rm 5.3; II Co 1.3);
- Provar e aperfeiçoar a sua fé (I Pe 1.7);
- Corrigir os erros cometidos (Sl 119.67,71; Dt 8.5; Hb 12.6).
IV - OS CANAIS DA TENTAÇÃO
Em Tiago nos versos 12 e 13 o apóstolo fala sobre as provações internas, isto é, as tentações. A palavra tentação na versão Almeida e Corrigida carrega a ideia de seduzir ao pecado. Tiago provavelmente tinha em mente a doutrina judia do “Yetzer ha ra’”, que é o “impulso do mal”. “Alguns judeus arrazoavam que tendo Deus criado tudo, devia também ter criado o impulso do mal, e considerando que é o impulso do mal que tenta o homem ao pecado. Em última análise é Deus que o criou, e por isso é o autor e responsável pelo mal”(BARCLAY, sd. p. 52). Tiago aqui REFUTA essa ideia afirmando que “Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta”. Em vez de acusar Deus pelo mal, o homem deve assumir a responsabilidade pessoal dos seus pecados. É a sua própria cobiça que o atrai e o seduz (Tg 1.14,15). Vejamos os agentes da tentação:
4.1 O Diabo. Do grego “diablos”, é o principal agente da tentação (Mt 4.3; Lc 4.13; 1Ts 3.5). Logo nos primeiros capítulos da Bíblia vemos ele tentando os nossos primeiros pais (Gn 3. 1-7). Em Mt 4.3 vemo-lo tentando a Cristo. Paulo escrevendo aos Tessalonicenses diz: “temendo que o tentador vos tentasse” (I Ts 3.5). Aos coríntios escreveu dizendo que: “temia que eles fossem enganados pela serpente” (II Co 11.3); Pedro diz que o tentador “anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (I Pe 5.8).
4.2 A carne. Do grego “sarx”, refere-se a natureza caída, as paixões, os desejos e apetites desordenados que reinam em nossa natureza (I Co 10.13; Tg 1.14,15). Podemos dizer que a carne é o mais perigoso de todos os inimigos. Pois, enquanto os demais são externos, este inimigo reside em nós mesmos. “Cada um, porém, é tentado pelo PRÓPRIO MAU desejo, sendo por esse iludido e arrastado. Em seguida, esse desejo, tendo concebido, faz nascer o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte” (Tg 1.14,15 - Bíblia King James).
4.3 O mundo. Do grego “aion”. Escrevendo a Tito, Paulo disse que a graça de Deus nos ensina a renunciar as paixões mundanas (Tt 2.12). Sendo assim, podemos dizer que o mundo também é um agente da tentação (I Jo 2.15-17).
V - COMO VENCER AS TENTAÇÕES
Todo servo de Deus deve saber que não há tentação invencível. Por duas razões dizemos isto: A primeira é que Jesus venceu todos os nossos inimigos e nos garante a vitória (Jo 16.33; Cl 2.15). A segunda é que quando somos tentados, Deus sempre nos dá um escape “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1Co 10.13). Deus não ignora nossa estrutura, mas se lembra que somos pó (Sl 103.14), por isto o nosso socorro é garantido pela compaixão do nosso Deus (Hb 4.15; 2.18).
MEIOS PARA VENCER AS TENTAÇÕES |
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Orando e vigiando (Mt 26.41) | Renunciando a si mesmo (Gn 39.7-12) |
Tomando toda a armadura de Deus (Ef 6.10-18) | Refugiando-se em Jesus (Hb 2.18) |
Evitando a ociosidade (II Sm 11.1,2; II Pe 1.8-10) | Sujeitando-se a Deus (Tg 4.7a) |
Evitando tudo que possa levar a tentação (Pv 27.12; 1Ts 5.22) | Resistindo ao Diabo (Tg 4.7b) |
Lendo e meditando na Palavra de Deus (Js 1.7,8) | Estando cheio do Espírito Santo (Ef 5.18) |
Andar em Espírito (Gl 5:16); e ocupar a mente com o que é santo(Fp 4.8; Cl. 3.2) | Viver uma vida de santidade (Ef 4:22-5:1;1 Ts 5:23; 1Pe 1:16;) |
Amando a Deus e ao próximo (1 Cor 13; Col 3; 12-17; 1 Jo 4:7,8) | Manifestando o fruto do Espírito (Jo 15:1-5,16; Gl 5:22,23; Ef 2:10) |
CONCLUSÃO
Tiago nunca sugeriu aos crentes que o cristianismo seria um caminho fácil. Pelo contrário, adverte-os que se encontrariam envoltos em “várias provações” (Tg 1.2). Assim somos, sabemos que enfrentaremos muitas “provas e tentações”, porém de todas nos livrará o Senhor da glória. Amém!